quinta-feira, 5 de setembro de 2013

"Madame Bovary" de Gustave Flaubert

  • Sobre o livro
Madame Bovary de Gustave Flaubert
2012, Civilização Editora
344 páginas
  • Sobre o autor
Gustave Flaubert nasceu em Rouen a 1821 e pode-se considerar que foi um homem bastante extravagante, que viajou por (quase) todo o mundo e com um apetite insaciável por mulheres, muitas delas prostitutas. Escreveu Madame Bovary e A Educação Sentimental e teve como "protegidos" Zola e Maupassant. Mais tarde morreu de uma hemorragia cerebral, em 1880, mas as doenças venéreas que apanhou ao longo da vida como a sífilis também contribuíram para a sua morte.
  • Sobre a história
À primeira vista, este livro parece-nos ser uma treta lamechas como esperaríamos que fosse o Monte dos Vendavais, mas como eu já me apercebi do quão errada estava a minha ideia sobre este e que afinal foi "bem bom", retiro desde já quais queres pretensões para com esta obra de arte (mea culpa).
 
No início deste livro, é-nos apresentado Charles Bovary, conceituado médico cuja vida e infância é contada nos primeiros capítulos. Tem como segunda mulher Emma (a madame Bovary do nosso enredo).
 
Emma passa a ser a protagonista do nosso livro e compreendemos que está insatisfeita porque antes de ser casada, apesar de certinha, sonhava em viajar pelo mundo, pertencer à classe alta de Paris, soirées, festas, convívios... E apercebe-se que o marido e bem mais pacífico, pachorrento e passivo que ela. Emma não está satisfeita.

Sentimos pena por Emma, apenas deseja ser amada com a mesma intensidade com que ama...
 
Mas descobrimos que Emma é uma devoradora apaixonada e que nunca está satisfeita. Tem duas grandes paixões, uma por Rodolphe, que não é correspondida e que acaba numa depressão e outra ainda maior por Léon, que é recíproca. Mas Emma, vá, de tão "pegada" que é, faz com que Léon se aborreça um pouco com a "pegajosice" (é permitido, é um blog familiar) dela e dá-lhe a entender isso. A nossa pena torna-se em indiferença.
 
A paixão intensa fá-la esquecer de tudo: da filha carente, do marido passivo e dos seus livros. A paixão devora-a lentamente.
 
Claro que como não podia deixar de ser, esta história só podia ter um final trágico. A paixão que a faz sobreviver é a mesma que a mata.
  • Classificação
4/5

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

O Reencontro

Foi há um mês que deixei o blog meio ausente meio presente, pelo facto de toda a gente merecer um descanso, embora para as leituras nunca há descansos :) nas palavras do bom Frank Zappa: "Há tantos livros, mas há tão pouco tempo..."

Agora retorno, pronta para mais um ano escolar (para quem não sabe, sou ainda uma criancinha...)

Novidades: Decidi elaborar uma lista excel para ordenar os meus livros. Na esperança de mais tarde, quando tiver muitos, não me perca nos títulos. Por volta de 120 é o meu inventário. Já não é mau para uma pessoa da minha idade ;)

Mais - Dia 10 de Setembro sai o aguardado livro de Paul Auster cá em Portugal, com o nome de "Relatório do Interior", um livro de memórias. Um dos meus escritores norte-americanos preferidos.

 
Só mesmo um teaser: No ínicio do próximo ano, talvez haja uma mudança de imagem. Esperemos e vejamos.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

"O Monte dos Vendavais" de Emily Bronte

  • Sobre o livro
O Monte dos Vendavais de Emily Bronte
1993, Publicações Europa-América
303 páginas
  • Sobre a autora
Emily Bronte nasceu a 1818, sendo a irmã do meio entre Charlotte Bronte (1816) e Anne Bronte (1820), também responsáveis por clássicos brilhantemente aclamados mundialmente, como o caso de Jane Eyre (escrito por Charlotte Bronte). Apesar de ser a mais tímida das três irmãs escritoras, foi ela quem escreveu O Monte dos Vendavais, um dos grandes clássicos ingleses de todos os tempos. Em 1848, com apenas 30 anos, morreu de tuberculose, após uma constipação apanhada no funeral do irmão Branwell.
  • Sobre a história
O Monte dos Vendavais é aquela história de quem toda a gente ouviu falar, onde existe uma grande, imensa paixão entre Heathcliff e Catherine. Claro que as pessoas que não leram o livro apenas conhecem esta parte, porque é a mais conhecida.
 
Eu quase que diria que o livro está dividido em duas partes. A primeira, onde é tudo (quase) perfeito, é quando Catherine e Heathcliff estão profundamente apaixonados... O mau feitio destas duas personagens combinam que nem ginjas. Mas o mau feitio de Catherine é ainda pior, porque apesar de amar Heathcliff (que era cigano e sem posses), casa com Edgar Linton, por este ter dinheiro para a conseguir sustentar. Na noite em que Catherine desabafa com a Srª Dean (sua criada e narradora deste livro) em como ama Heathcliff e este a ouve, ele desaparece durante três anos, para ganhar instrução de modo a ser "suficiente" para Catherine.

Claro que quando volta, Catherine está casada e ama o marido. Mesmo assim, Heathcliff tenta-a reconquistar, abalando o coração dela e aquando do parto (ninguém sabia que estava grávida), o coração dela estava tao fraco que acabou por parar. A partir deste momento, Heathcliff sofre uma transformação e as duas casas (Monte dos Vendavais pertencente a Heathcliff e Herdade dos Tordos pertencente a Edgar) entram em rivalidade.
 
A partir daqui, começa a dita segunda parte, em que é um encontro de mortes, confusões, ódios e desgostos. É aqui que o livro fica verdadeiramente difícil, porque apesar de não ser uma leitura difícil, é uma leitura extremamente pesada, nós sentimos o ódio das personagens a florescer em nós! É aqui que esta mana Bronte de destaca das outras, este é o dom dela.

A filha de Catherine e Edgar, também chamada de Catherine, cresce na Herdade dos Tordos, sempre curiosa em relação ao Monte dos Vendavais e fica bastante amiga de Linton, filho de Heathcliff e Isabel Linton (irmã de Edgar). Claro que o rancor que Heathcliff tem por Edgar não desaparece, e numa tentativa desesperada, obriga Catherine a casar-se com Linton, para ficar com todas as posses de Catherine e destroçar Edgar.

No meio de tanta carnificina psicológica, Heathcliff morre e liberta-se, libertando Catherine também.

A missão de Catherine foi cumprida... Quis que Heathcliff e Edgar se aceitassem um ao outro, cada um o amor da sua vida, Heathcliff a paixão e Edgar a moral. Não foi Catherine que a cumpriu, mas sim a sua filha, que ligou as casas com um casamento com Hareton, o seu primo.
 
Quando se fala de um livro que consegue transmitir ao leitor tudo o que os personagens sentem, este é O Rei. O ódio de Heathcliff e a paixão de Catherine trespassam tudo e todos. E é por isso que é um clássico.
  • Classificação:
5/5

segunda-feira, 22 de julho de 2013

As Canções de Amor

Vou poupar uma breve introdução e dizendo apenas: As Canções de Amor (2008) de Christophe Honoré com Louis Garrel, Ludivine Sagnier e Chiara Mastroianni.
 
Momento: Julie (interpretada por Sagnier) morre.

O que eu quero falar é como a morte é interpretada, como é vista aos olhos de várias pessoas. Nos filmes (normalmente americanos) ouvem-se gritos, pessoas a correrem em pânico. Os paramédicos a chegarem, a pedir que toda a gente se afaste. A sirene da ambulância não se pára de tocar.

Fiquei abismada. Neste filme, a morte é encarada como uma passagem silenciosa. Apenas uma pessoa tenta reanimá-la, não há gritos. A polícia chega calmamente e toma conta da situação. Os paramédicos tentam reanimá-la. Mas a polícia fala para o rádio “Delta Charlie Delta”, código para “morreu”. A morte é diferente aos olhos de cada um, mas não será para todos nós uma passagem silenciosa? Não será que é o modo de um qualquer ser superior nos dizer que o que quer que tenhamos feito durante a vida, todos temos o mesmo fim, vamos para um sítio mesmo sítio? E será esse sítio bom ou mau? Silencioso, apaziguador ou irado e barulhento?

Penso que Honoré honrou muito bem este rito. É um filme que vos aconselho e quando poderem, digam se gostaram :)

 
 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

"Contos de Natal" de Charles Dickens

  • Sobre o livro
Contos de Natal de Charles Dickens
2011, Civilização Editora
261 páginas
  • Sobre o autor
Charles Dickens nasceu a 1812 e morreu a 1870, deixando dez filhos. É considerado o autor mais popular da era vitoriana, onde critica a sociedade e é descrita a vida das famílias pobres, que participaram no êxodo rural e causaram a sobrelotação da cidade de Londres, fazendo-as ainda mais pobres. As suas primeiras obras eram assinadas como "Boz", seu pseudónimo. Entre as suas obras mais conhecidas estão David Copperfield, Oliver Twist, Um Conto de Natal e Grandes Esperanças.
  • Sobre a história
A Civilização Editora, nesta edição, compilou os primeiros três contos natalícios dos cinco que Charles Dickens escreveu entre 1843 e 1848. O primeiro é Cântico de Natal, comummente chamado de Um Conto de Natal, o segundo chama-se Os Carrilhões e o terceiro O Grilo da Lareira.
 
Cântico de Natal é o mais conhecido deles todos, tendo sido adaptado diversas vezes ao cinema (a mais recente, com Jim Carrey no papel de Scrooge). Neste Cântico de Natal, Charles Dickens dá-nos a conhecer Scrooge, um velho avarento e aborrecido com a vida, que não gosta do Natal. Um seu companheiro de trabalho já morto, Marley, também era como Scrooge, e na véspera de Natal assombra Scrooge, avisando-o que se continuar a ser avarento, acabará como ele, como fantasma, entre o céu e a terra, por deixar assuntos não resolvidos. Assim começará a viagem de Scrooge aos Natais do Passado, do Presente e do Futuro, com os respetivos Espíritos. Claro que (sendo desmancha-prazeres) no final, Scrooge é bonzinho e toda a gente é feliz. Yey!
 
N'Os Carrilhões (o conto que mais gostei), Trotty é um pobre e desfortunado homem, que acredita que "Não há nada de bom em nós. Nascemos maus" e essa sua devoção aos Carrilhões é por achar que ambos tem muito em comum. Numa noite de um dia em que nada estava a correr bem, os Carrilhões chamam por Trotty e ao desmaiar, vê o futuro das pessoas que lhe eram queridas, após a sua morte. Entre diversas personagens importantes, Dickens critica a burguesia de uma sociedade onde ser-se pobre era ser-se ninguém e considerado abaixo de lixo. Deveras, o conto que mais gostei neste livro.
 
Já na última história, O Grilo da Lareira, conhecemos John Peerybingle e sua mulher Dot, que tem uma vida simples de casados, mas especial, devido ao grilo na sua lareira, que canta para os recordar de quão boa é a vida. E a história continua, lá pelo meio John pensa que Dot o trai, mas afinal foi apenas um engano, enfim.
 
Conclusão: As histórias são assim-assim. O louvável em Dickens não são as suas ideias, porque ele até nem tem fama de escrever muito bem, mas sim o facto de ter sido ele quem abriu as comportas da sátira inglesa do século 19. Muito enredo, muita descrição.
 
Um "keep it simple" para mim chega.
  • Classificação
3/5

quarta-feira, 3 de julho de 2013

"As Rosas de Atacama", de Luis Sepúlveda

  • Sobre o livro
As Rosas de Atacama de Luis Sepúlveda
2006, Edições Asa
144 páginas
  • Sobre o autor
Luis Sepúlveda nasceu no Chile a 1949 e é um romancista e activista político chileno. A sua obra com mais sucesso, O Velho que Lia Romances de Amor, foi dedicada a Chico Mendes, um grande defensor da floresta amazónica e a sua obra está traduzida em dezenas de línguas. Do seu repertório consta também As Rosas de Atacama, História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar, Patagónia Express e Diário de um Killer Sentimental. Devido ao Golpe Militar de Pinochet, Sepúlveda foi preso, torturado e exilado.
  • Sobre a história
As Rosas de Atacama tem como título original Historias Marginales, frase que dá nome ao primeiro capítulo onde o autor explica de onde vieram as suas ideias. No campo de concentração de Bergen Belsen existe uma pedra onde diz: "Eu estive aqui e ninguém contará a minha história" e com base nesta inscrição, o autor determina-se a contar histórias breves sobre heróis anónimos, que mudaram o decurso da História. "Narrar é resistir".

São 34 contos curtos, breves como a vida de uma rosa do deserto Atacama, que nascem a 31 de Março e duram até ao meio-dia do mesmo dia, não querendo dizer que por causa da sua pouca duração de vida, não sejam importantes. Nesse dia, o deserto fica vermelho vivo cor se sangue.

Contados pelo autor na 1ª pessoa, Sepúlveda dá-nos a conhecer personagens imprevisíveis, revolucionárias e lutadores, todas com o objectivo de defender o direito à vida, lutando pela justiça e a identidade do país. Tudo isto misturado com a bela visão do mundo que só Sepúlveda tem...
  • Classificação
4/5

domingo, 23 de junho de 2013

"A Queda dum Anjo" de Camilo Castelo Branco

  • Sobre o livro
A Queda dum Anjo de Camilo Castelo Branco
2011, Tugaland
250 páginas
  • Sobre o autor
Camilo Castelo Branco nasceu em Lisboa a 1825 e morreu em Vila Nova de Famalicão em 1890. A sua atribulada e romanesca vida deram lugar à inspiração para as suas obras, tendo conseguido viver do que escrevia. Durante a sua adolescência, leu os clássicos portugueses e latino, ao mesmo tempo que vivia a vida transmontana. As suas obras mais famosas são Amor de Perdição e A Queda dum Anjo. Aos 65 anos de idade, cego pela sífilis e consequentemente incapacitado de ler e escrever, suicida-se com um tiro de revólver. Assinou também com nomes como Manoel Coco, Saragoçano, A.E.I.O.U.Y, Árqui-Zero ou Anastácio das Lombrigas.
  • Sobre a história
"Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado de Agra de Freimas, tem hoje 49 anos, por ter nascido em 1815, na aldeia de Caçarelhos, termo de Miranda". Assim começa este romance de Camilo Castelo Branco, dando a conhecer o nosso protagonista.
 
Calisto é o homem exemplar: ávido conhecedor dos clássicos, das leis e dos livros eclesiásticos, traje modesto e semblante antigo, apesar de ter quarenta e quatro anos, religioso e o mais importante e que caracteriza este homem: tradicional. Calisto Elói defende com garras e unhas o tradicional, repugnando o moderno (a cidade).
 
Visto Calisto ter uma oratória tão bem treinada, aconselham-no a ir à Câmara a Lisboa, achando que ele faria os políticos mudarem de ideias quanto ao destino do país; talvez ainda existisse esperança com uma pessoa como Calisto.
Como o título indica, o Anjo cai. Calisto é absorvido pela ganância, vaidade e corrupção da cidade, perdendo os seus valores e se enamorando de mulheres (Calisto era casado, não por amor, mas por conveniência). A cidade absorve-o.
 
"Calisto Elói, aquele santo homem lá das serras, o anjo do fragmento paradisíaco do Portugal velho, caiu."
 
E deixa todos o seus valores para trás, dando lugar a um novo homem, apesar de corrompido pela sociedade citadina, com os seus pecados, ignorância e vida mundana.
 
"Na qualidade de anjo, Calisto sem dúvida seria mais feliz; mas, na qualidade de homem a que o reduziram a paixões, lá se vai concertando menos mal com a sua vida".
  • Classificação
3.5/5